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Falando nisso...

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domingo, fevereiro 10, 2008

Um diálogo entre imagens em um texto extenso sobre a política de heróis

Por falar em herói, temos um grande, o nosso maior herói: Macunaíma, o herói brasileiro...

E quem disse que queremos heróis? Nós não precisamos de heróis, e tenho dito. Nenhum daqueles musculosos com cara de bom moço e que sempre ficam com a mulher mais bonita, não precisamos de super-homens, nem homens ou mulheres que são idealizados, ideologizados, mistificados como guias pra um mundo melhor, não precisamos de idealizações e nem ideologias, e olha que Marx já apertou esse botão há algum tempo...

Mas devo admitir uma coisa, eu tenho meu herói: Paulo Freire. E se me é possível explicar, só o aceito na condição de saber que ele não vai me salvar, mas sim porque ele ensinou que todos nós somos heróis, e que cada um é responsável por sua existência de forma atemporal, não na espera, mas na realização, na concretude, a ponto de transformar as coisas pela consciência em ação, nada mais do que a velha e boa comadre: a Conscientização, e com “c” maiúsculo sim, se eu não escrevesse assim estaria coisificando algo que por si só tem vida e produz vida...

E então ainda queremos heróis? Talvez precisemos, mas não esses super-ícones, precisamos é de Josés e Raimundos, Marias e Severinas, que podem não ser “nada”, nem “ninguéns” pra história e por isso não vão aparecer nos livros do ensino fundamental e médio, mas ao construir vidas com dignidade, procurando deixar para o que está por vir algo que lhes é pertinente ou que lhes foi, tentando transformar o sofrimento em algo positivo, na resiliência buscar a superação, dessa maneira não entrarão nos livros, mas entrarão na própria história, a história que realmente diz quem são e o que puderam fazer.

Mas mesmo assim, depois de pensar, se ainda quiserem escolher heróis, façam-no, cada povo tem o líder que merece. Engraçado, eu ainda continuo me lembrando de Macunaíma.

Falta de ícones? Não, O problema não é a falta de ícones...

Acho que o problema reside justamente no oposto, quando críamos ícones, transferimos nossas responsabilidades pra eles. Duvida? Pensa na política, é muito claro quando há a eleição de um dito, acho que só dito mesmo, representante do povo, fica explícito a incumbência deste em resolver os problemas da população, e haja promessas, verdades que não acontecem e toda a sorte de artimanhas da grande prostituta do Brasil.

Pra mim, e sempre na minha perspectiva, qualquer tipo de transformação social não se dá somente a nível público, mas também no privado, a este cabe a denúncia, aquele a ação... Outra situação: um buraco em uma rua só vai ser tapado, quando alguém da rua for reclamar na prefeitura e não quando o político/herói passar por lá. É quando um grupo insatisfeito com uma situação, por seus meios, éticos diga-se de passagem, vai atrás de mudar estruturalmente uma ordem social e não por revoltas (está provado que violência não resolve nada), mas por revoluções, pois como Paulo Freire (meu herói) diz é um processo crítico que só tem fim quando a humanidade acabar ou a desumanidade sumir, pois enquanto houver uma relação desigual deverá haver uma transformação crítica e coerente com aquele povo.

A criticidade é que faz as coisas melhorarem, não heróis que aparecem nos jornais ou dentro da casa dos outros pela televisão, sob a ótica da mídia mostrando que são bons porque conseguiram isso ou aquilo através seja lá do que for. Tem gente que fora dos holofotes, fora do olhar pernicioso da sociedade, sofre muito mais, consegue muito mais, aprende e transforma muito mais, porque não se deixa prender nessa política de heróis...
E mesmo depois de tudo, se for pra escolher um herói, eu ainda prefiro ficar com Macunaíma, e isso sem fazer juízos de valor, até porque ele não tinha uma moral ilibada (o que torna repreensível seus atos e mais do que isso, impraticáveis e puníveis), mas pelo menos nunca esperou por algum ícone e fez... Façamos na medida das possibilidades, porque existir é pontualmente isso: a pura possibilidade de escolher, e que escolhamos agir, e nesse movimento, acredito numa valoração de pessoas dotadas de um saber que lhes é peculiar, um saber popular, e essas pessoas são o próprio povo, é todo o povo, somos todos nós, e por isso temos uma responsabilidade sobre o devir da nação, e para além de cidadania, há uma condição de existência como um povo, como uma nação, como um meio-ambiente, e principalmente como um planeta.
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